A Terceira Turma do STJ, ao
julgar o REsp 1342955 em 14/03/2014, restabeleceu decisão
que condenou as Lojas Renner a deixar de vender os produtos da marca Cortelle, registrada pela rede varejista para o mesmo ramo de atividade da marca Corpelle– que ela comercializava antes da criação da nova marca. A empresa Cortex
Comércio Exportação e Importação, proprietária da Corpelle – registrada no
Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), em 1996, para o ramo de
vestuário –, fornecia os seus produtos para as Lojas Renner. Contudo, em certo
momento, a Renner deixou de adquirir as roupas da Corpelle e passou a
comercializar, dentro do mesmo segmento de mercado, sua marca própria Cortelle,
para a qual obteve registro no INPI em 2002. Devido à similaridade gráfica e
fonética das marcas, a Cortex moveu ação contra a Renner e o INPI. Alegou
concorrência desleal por parte da loja e o risco de confusão pelo consumidor. O
juízo de primeiro grau declarou a nulidade do registro da Cortelle e condenou a
Renner a se abster de utilizar a marca.
O Tribunal Regional Federal da 4ª
Região deu provimento às apelações da Renner e do INPI, sob o argumento de que
não haveria elementos suficientes para provar que a coexistência das marcas
pudesse provocar confusão nos consumidores. No STJ, a Cortex afirmou que é
indiscutível a semelhança gráfica e fonética das marcas e que a Corpelle teria
prioridade, já que está no mercado há mais tempo. A ministra Nancy Andrighi,
relatora do recurso especial, mencionou que o artigo 124, inciso XIX, da Lei de
Propriedade Industrial veda o registro como marca de “reprodução ou imitação,
no todo ou em parte, ainda que com acréscimo, de marca alheia registrada, para
distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim,
suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia”. Ela explicou que
esse artigo não exige a confusão ou a associação indevida entre as marcas, mas
apenas o risco potencial de que isso ocorra. “Tanto é assim que o dispositivo
legal faz uso da expressão ‘suscetível de causar’, ou seja, tendente a gerar
dúvida no consumidor”, disse.
Andrighi citou precedente da
Terceira Turma, segundo o qual, “para a tutela da marca basta a possibilidade
de confusão, não se exigindo prova de efetivo engano por parte de clientes ou
consumidores específicos”. No caso julgado, a relatora considerou que “é clara
e indiscutível a existência de semelhança gráfica e fonética entre as marcas,
capaz de gerar confusão no consumidor médio”. Ela observou que a marca Corpelle
surgiu da junção das palavras “cor” e “pele”, diretamente associadas ao produto
(moda íntima feminina). Quanto à marca Cortelle, no entanto, ela afirmou que
não há nenhuma junção de palavras, “levando a crer que a única intenção foi
justamente a de se aproximar ao máximo dos elementos formadores da marca
concorrente, com vistas a confundir consumidores incautos quanto à origem dos
produtos”. Diante das evidências, os ministros consideraram que ficou
caracterizada a concorrência desleal, apta a confundir o consumidor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário