Na sessão extraordinária realizada na manhã desta terça-feira (1º), o Plenário, por maioria, considerou
inconstitucionais dispositivos de lei do Estado do Rio de Janeiro que obriga pessoas físicas ou jurídicas,
independentemente do ramo de sua atividade, que ofereçam estacionamento ao público a cercar o local e manter
funcionários próprios para garantia da segurança, sob pena de pagamento de indenização em caso de prejuízos ao
dono do veículo.
Prevaleceu o voto do relator, ministro Luís Roberto Barroso, que julgou procedente a Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 451, ajuizada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC), declarando
inconstitucionais os artigos 1º, 4º e 5º da Lei fluminense 1.748/1990.
Segundo o relator, a lei estadual viola o princípio constitucional da livre iniciativa, criando responsabilidade ao
empresário, como o dever de cercar e de contratar vigilância para o estacionamento, impondo assim ao comerciante
ou a empresa privada ônus irrazoável. O relator citou o julgamento da ADI 4862, quando o Plenário considerou
inconstitucional lei do Paraná sobre cobrança em estacionamentos. Para o ministro Barroso, a lei do RJ também viola
competência privativa da União, prevista no artigo 22 da Constituição Federal, ao legislar sobre Direito Civil. Ofende
também a prerrogativa da União de legislar sobre Direito do Trabalho, ao impor a contratação direta de funcionários,
sem permitir a terceirização.
O ministro Roberto Barroso explicitou duas teses que fundamentam o seu voto. Para ele, “lei estadual que impõe a
prestação de serviço de segurança em estacionamento à toda pessoa física ou jurídica que ofereça local para
estacionamento é inconstitucional, quer por violação a competência privativa da União para legislar sobre Direito
Civil, quer por violar a livre iniciativa”. A segunda tese do relator é no sentido de que “lei estadual que impõe a
utilização de empregados próprios na entrada e saída de estacionamento, impedindo a terceirização, viola a
competência privativa da União para legislar sobre Direito do Trabalho”.
Acompanharam o voto do relator os ministra Rosa Weber, os ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio e a
presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, que ressaltaram que a norma estadual extrapolou a esfera do Direito do
Consumidor e tratou indevidamente de Direito Civil e do Trabalho.
Divergência
Em voto divergente, o ministro Alexandre de Moraes, ponderou que a interpretação ampla das competências da
União tem engessado a atuação das assembleias estaduais na criação de leis importantes sobre suas realidades
regionais. Em sua avaliação, a questão tratada na lei estadual envolve Direito do Consumidor, e que a determinação
de colocar segurança nos estacionamentos ou o cercamento da área são quesitos que a lei instituiu para preservar os
consumidores, sem afronta ao texto constitucional. Entretanto, na parte que impõe a contratação de funcionários
próprios para garantir a segurança, o ministro considerou presente a invasão de competência da União.
Assim o ministro julgou parcialmente procedente a ação para declarar inconstitucionalidade do artigo 5º da lei
estadual, bem como a expressão “mantendo empregados próprios”, presente no artigo 1º da Lei estadual. A
divergência foi acompanhada pelos ministros Edson Fachin e Ricardo Lewandowski.
Processo: ADI 451
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